quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Curso de Formação “O ensino do Holocausto: ponto de partida para a Educação para a Cidadania e para os Direitos Humanos”


A questão da formação dos professores, e de outros profissionais, é sempre uma oportunidade de enriquecimento e de atualização, embora nem sempre se traduza, na prática, numa mais-valia. Ou porque não corresponde às reais necessidades dos profissionais, ou porque é muito teórica e por isso, pouco motivadora a aprendizagem.
Se é verdade que a formação dos docentes é procurada por um imperativo do estatuto da carreira, é igualmente verdade que também é frequentada por forte interesse e motivação do professor. Existem professores empreendedores, que se envolvem em projetos desafiantes e que se interessam por práticas e metodologias inovadoras em contexto educativo.
As necessidades e as expetativas da sociedade atual, aberta, globalizada, sustentada pela informação e o conhecimento têm vindo a desafiar o professor para uma atitude dinâmica, flexível e conectada com o mundo. Neste contexto, é imperioso uma mudança de paradigma de educação, de escola, de professor, de aluno e de ambiente de aprendizagem. Impõe-se, por isso, um modelo de formação de professores, enquanto promotor da qualidade da educação, mais capaz de capacitar os futuros cidadãos para a intervenção nesta sociedade.
Nesse sentido, o curso de formação promovido pela Direção Geral da Educação, em parceria com o Mémorial de La Shoah: “O ensino do Holocausto: ponto de partida para a Educação para a Cidadania e para os Direitos Humanos”, realizado na Escola Secundária de Loulé, de 26 a 28 de setembro, constitui um momento privilegiado de reflexão e de aprendizagem sobre a temática.
O Projeto “Dever de Memória – jovens pelos direitos humanos” do nosso Agrupamento fez-se representar pelas professoras Aldina Mendes, Dores Fernandes e Josefa Reis, que desenvolvem a temática no âmbito deste projeto pedagógico e pretenderam aprofundar conhecimentos e enriquecer competências para a abordagem do tema dos direitos humanos na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Depois da calorosa receção e da apresentação dos promotores e oradores do seminário, iniciaram-se os trabalhos com a comunicação “As raízes do antissemitismo europeu”, de Hubert Strouk, do Mémorial de la Shoah, uma intervenção pertinente sobre o tema, que extrapolou para a atualidade, segundo a diretiva do estudo do passado para entender o presente e assim poder prevenir o futuro, emanada pelo Mémorial de la Shoah e também pelo Yad Vashem. As diversas abordagens do dia, focadas no ensino e aprendizagem do Holocausto, foram, extremamente cativantes e muito pertinentes as reflexões suscitadas. Sublinha-se a exposição do mesmo orador na palestra “Desconstruir teorias da conspiração” e o ateliê pedagógico “Desconstruir preconceitos na sala de aula”, que promoveram uma reflexão sobre a necessidade de uma atenção intensificada, a importância do saber ver e interpretar sinais e imagens aparentemente inócuos na sociedade, principalmente através das plataformas virtuais, que são hoje um dos maiores veículos da informação e da falsa informação. Não sendo o ensino do holocausto um desafio fácil, é necessário ter em atenção a abordagem desta questão, tornando-se necessário a preparação cuidada e criteriosa dos docentes e esse é o entendimento da DGE, que ano tem vindo a apostar nesta formação. Deve, assim, a temática ser alvo de uma articulação transversal entre as Aprendizagens Essenciais da disciplina de História, a Estratégia Nacional da Educação para a Cidadania e os princípios, áreas de competência e valores definidos no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, numa visão integradora do currículo.
A intervenção de Pascal Zachary, do Mémorial de la Shoah, sobre  O centro de extermínio de Auschwitz” acrescentou conhecimentos para a visita de estudo a Auschwitz e Birkenau a realizar, pela segunda vez, neste ano letivo, de 2 a 5 de abril de 2020, no âmbito do projeto UNESCO do nosso Agrupamento, alicerçado no estudo e partilha da temática da 2ª Guerra Mundial, do Holocausto e do ato de Aristides de Sousa Mendes, “Justo entre as Nações”, natural do nosso concelho
As reflexões trazidas pela historiadora Irene Pimentel, do IHC da FCSH, da NOVA, a partir da comunicação “Portugal e o Holocausto”, sobre a política ambígua e a avaliação das suas consequências, lançaram luz sobre a posição de Portugal do Estado Novo, relativamente ao nazismo. A visita à exposição “Trabalhadores forçados portugueses no III Reich”, patente na Casa Museu Engenheiro Duarte Pacheco, em Loulé, orientada pela historiadora Cláudia Ninhos, do IHC, suscitou também muito interesse, por traduzir o sofrimento e angústia infligido, neste período histórico de horror, a portugueses emigrantes em França, prisioneiros dos campos de concentração, facto desconhecido das próprias famílias. O documentário “Debaixo do Céu”, de Nicholas Oulman, constituiu outro momento alto do seminário, representando, através dos testemunhos, um bom material gerador de debate e reflexão, transversal a várias áreas em ordem ao perfil do aluno.
O curso de formação teve como objetivo fundamental aprofundar os momentos marcantes do Holocausto, através da memória fundamentada em documentos, de modo a desconstruir, no presente, as várias formas de negação deste trágico acontecimento histórico, propiciando o entendimento da dimensão do holocausto, que levou à morte de vários milhões de vítimas num extermínio orquestrado e massificado. Pretendia, também, a constituição de uma rede nacional de formadores na temática do Holocausto, conducente à replicação dos conteúdos abordados. Contou com a participação de docentes de várias áreas disciplinares, que entusiasmados pelos vários painéis, não se davam conta do tempo a passar. Esta formação abriu perspetivas interessantes de trabalho no âmbito da memória do holocausto e da educação para os direitos humanos, através de excelentes comunicações e do apoio em fontes e documentação fidedignas, disponibilizando variados recursos, propostas e metodologias de trabalho desta temática que se apresenta cada vez mais necessária na formação dos alunos, face à crescente onda de intolerância, radicalismo e extremismo político. Torna-se, assim, premente a necessidade de desenvolver valores de uma cultura democrática, o respeito pelos direitos humanos e a educação para a paz.

Texto: Josefa Reis e Dores Fernandes
Fotos: Josefa Reis

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