O dia 19 de novembro ficou indelevelmente
marcado na mente da plateia da Escola Secundária do Agrupamento de Escolas de
Carregal do Sal. Os alunos de 9º ano e de 12º C tiveram o privilégio de ouvir o
testemunho de Cookie Fisher sobre a história da sua mãe, Adele Van Den Bergh, judia holandesa que, graças ao visto, passado em
1940, em Bayonne, por Aristides de Sousa Mendes, fugiu da Europa, fixando-se
nos Estados Unidos da América.

Assim, a coordenadora, Dores Fernandes,
contextualizou a atividade, estabelecendo uma relação entre a intolerância, a discriminação
e a perseguição a grupos étnicos minoritários, nomeadamente no contexto da II
guerra mundial e do holocausto.
Com base no diário da mãe, na época uma
jovem de 25 anos decidida a fugir da guerra, Cookie contou que ela partiu
sozinha da Europa, enquanto os seus pais escolheram ficar para defender os seus
bens, acreditando que os aliados facilmente impediriam a Alemanha nazi de
cometer qualquer atrocidade na Holanda ocupada. A sua viagem terá sido num barco
sardinheiro de nome “Milena” e, por conseguinte, sem condições de transporte de
pessoas, seriam cerca de cinquenta refugiados os passageiros. O nome da
embarcação suscitou alguma perplexidade nos ouvintes, pois por coincidência é o
nome da amiga de coração de Cookie Fischer, segundo reportou.
A convidada continuou o depoimento, referindo
que a mãe relatou, no diário, a falta de condições, a fome ao longo de vários dias
da viagem, além da incerteza em relação ao seu futuro e o sofrimento por
abandonar a sua família. Referiu, também, que antes da viagem, para colmatar a
falta de condições sanitárias, a sua mãe e outros refugiados compraram vários
“bacios”, para que as pessoas não sentissem a sua dignidade ferida ao longo dos
vários dias da viagem.
Em Portugal, viveu, temporariamente, na
cidade do Porto, tendo depois emigrado para os Estados Unidos. Foi uma mulher
corajosa, constatou a oradora, mas profundamente marcada por este drama, pelo
que não lhe contou esta história, o que revelava a personalidade de uma mulher
que em nada se parecia com aquela que conhecera e que certamente influenciou
Cookie como uma cidadã cosmopolita, a viver em vários países e dominando
fluentemente nove línguas., ferramenta que usa como professora universitária da
disciplina de Interculturalidade e Comunicação.
A terminar, a convidada revelou a gratidão
para com o cônsul português, a quem a sua mãe ficou a dever a vida e do qual
teve conhecimento há poucos anos atrás, através do seu diário, que lhe
proporcionou o conhecimento desse passado e do trabalho de investigação da
Sousa Mendes Foundation, que tem vindo a organizar a iniciativa “Journey on the road to freedom”, um
roteiro desde Bordéus até Lisboa - um porto de esperança na época - passando
por Cabanas de Viriato e em que participam pessoas que receberam vistos ou seus
descendentes, com o objetivo de lhe prestar homenagem.
A oradora, num estilo de grande
simplicidade e em português fluente, cativou a plateia durante uma hora, seguindo-se
um tempo de ativo e pertinente debate entre os alunos e a convidada.
No final da sessão, foi feita uma
atividade interativa com os alunos, simulando uma situação de stress de
guerra, com o objetivo de promover a reflexão sobre o que levar em momento de
fuga, concluindo-se que prevalece a identidade de cada um, contrariada pelo
apego aos bens materiais.
Ficámos com a convicção de que na mente
dos alunos se lançaram sementes de tolerância e de respeito pela diferença,
esperando que continuem a crescer nestes valores. Resta manifestar a nossa gratidão à oradora,
pela generosa disponibilidade em se deslocar à nossa Escola no curto tempo da
visita a Portugal, à Dra. Mariana pelo apoio em mais esta iniciativa, e aos
professores que acompanharam os alunos a sua inestimável colaboração.
Finalmente, uma palavra de apreço ao Senhor Vice-Diretor pelo valioso apoio e,
como habitualmente, à colaboradora D. Fátima Caldeira, pelo requinte de beleza do
centro de mesa.
Dores Fernandes e Josefa Reis
Fotos:
Josefa Reis
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