Do dia 3 a 5 de novembro realizou-se, no Auditório da Câmara Municipal de Carregal do Sal, um Seminário Internacional sobre a memória e o ensino do holocausto, intitulado “Holocausto: Memória, Educação e Cidadania”. Este curso de formação, destinado a professores de todos os grupos disciplinares, organizado pela DGE, em parceria com o Mémorial de la Shoah de Paris, a Associação de Professores de História, a Fundação Aristides de Sousa Mendes, o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e a Memoshoá, contou, também, com a estreita colaboração da Câmara Municipal de Carregal do Sal e o Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, através do Projeto “Dever de Memória – jovens pelos direitos humanos”. Tinha como objetivos fundamentais: formar e sensibilizar para o ensino do Holocausto, numa perspetiva transversal à Cidadania e aos Direitos Humanos e fornecer aos professores instrumentos de trabalho prático para a sala de aula, propiciando meios de reflexão que permitam, através do ensino do passado, problematizar o presente e perspetivar o futuro.
Assim, nos dias citados, depois da receção calorosa e apresentação dos promotores e oradores do seminário, iniciaram-se os trabalhos com a apresentação “Aristides de Sousa Mendes - A referência do passado na construção do futuro” de Paulo Catalino, Presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, seguida de “Aristides de Sousa Mendes: entre a História e a Memória” da historiadora. Cláudia Ninhos, do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e membro da Fundação Aristides de Sousa, que nos posicionou perante os feitos do humanista da região e que nos remete, de forma incondicional, para a necessidade de se posicionar no lugar do outro, posição cada vez mais difícil nos dias que correm.
O painel “O
Antissemitismo nos Séculos XIX e XX” de Joel Kotek, da
Universidade Livre de Bruxelas, uma intervenção pertinente do tema,
contextualizada com a atualidade e a intervenção “A Destruição dos Judeus na
Europa: ideologia e processo por etapas” de Pascal Zachary, do Mémorial de
la Shoa, promoveram uma reflexão sobre a necessidade de uma atenção
intensificada, a necessidade de Saber Ver e interpretar sinais inócuos em
sociedade, possíveis geradores de conflitos e que nos posiciona sobre a
importância de cultivar-se, cada vez mais, a cultura do conhecimento da
História, importância, comprovada e orientada pela formadora Marta Torres e por
Miguel Barros da APH, que vêm acrescentar que, mais do que nunca, é necessário
o estudo e formação para a construção de cidadãos centrados em valores
humanistas, na pessoa e na dignidade humana, com o contributo pedagógico do “Ensino
da História, minorias e direitos humanos”.
Não
há dúvida que a arte é um excelente veículo de expressão e de comunicação, e
nesse sentido, a apresentação “O dever de memória” – jovens pelos direitos
humanos “, a cargo da equipa do Projeto Unesco do Agrupamento de Escolas de
Carregal foi muito elucidativa de como em contexto de sala de aula se pode
abordar a temática do Holocausto, da Memória da 2ª Guerra Mundial, de forma
criativa e diversificada, alicerçando os conhecimentos numa metodologia de
trabalho do saber fazer e saber ser, competências essenciais ao perfil
do aluno à saída da escolaridade obrigatória.
As
reflexões do painel “Questionar o Holocausto através do género”, de
Caroline François, do Mémorial de la Shoah, suscitaram vivo interesse e empatia.
A intervenção recaiu no tema que traduz o sofrimento e a angústia das
prisioneiras dos campos de concentração neste período histórico de horror,
assunto transversal às várias áreas no sentido de contribuir para o perfil do
aluno, que se pretende crítico e atento em sociedade, onde as questões do
género e dos direitos humanos têm que estar acesas.
Impressionante
a intervenção e as pesquisas “Vidas poupadas: uma viagem pelos arquivos
diplomáticos”, de Margarida Lages, Diretora do Arquivo e Biblioteca do
Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, abordagens
pedagógicas, de sublime importância no resgate da memória e na interpretação de
elementos construtores dessa memória, dar voz a documentos, cartas e objetos e
construir uma história individual e coletiva foi a ideia fundamental.
“Os
Genocídios no Século XX: abordagem histórica e jurídica”,
de Joel Kotek, Universidade Livre de Bruxelas, e a intervenção sobre “Os
Justos” Portugueses” de Fernanda Matias e Maria Luísa Godinho, da Memoshóa,
remeteram a plateia, para a fragilidade da vida e a necessidade de uma
redobrada atenção social. Foram três dias de reflexão e de muitas aprendizagens sobre a temática e de partilha de afetos. O ensino do holocausto não é um desafio fácil, por isso é necessário ter em atenção a abordagem realizada em contexto educativo, daí a pertinência desta formação de professores das várias áreas do saber, pois é um imperativo moral e atual, face ao ressurgimento do antissemitismo, ao negacionismo, à cultura de ódio e à xenofobia que grassam no mundo. É imperioso que este conteúdo, que ultrapassa os limites da disciplina de História, integre a aprendizagem dos nossos alunos no sentido de educar para a cidadania.
De
registar, a título de balanço desta ação de formação, a pertinência dos
conteúdos dos diversos painéis, assim como as propostas de trabalho educativo e
a partilha de exemplos de boas práticas educativas, que se revestiram de elevada
qualidade, com apoio em fontes e documentação fidedignas, disponibilizando
variados recursos, propostas e metodologias de trabalho da temática, alicerçada
nos valores de uma cultura democrática, pacífica e de respeito pelos direitos
humanos, que se apresenta cada vez mais necessária na formação dos alunos no
mundo onde assistimos a uma preocupante onda de intolerância, radicalismo e
extremismo político.
Lembremos
que, numa visão integradora do currículo, e numa abordagem transversal entre as
várias áreas do saber, este tema se enquadra nos domínios da Estratégia
Nacional da Educação para a Cidadania e contribui para o perfil do
desempenho do aluno à saída da escolaridade obrigatória, em particular o
relacionamento interpessoal e o pensamento crítico, para além do respeito pela
diferença, em suma, pelos direitos humanos.
Por fim, agradecer o privilégio e a honra sentidos no Agrupamento de Escolas e no concelho de Carregal do Sal, berço do “Justo entre as Nações” Aristides de Sousa Mendes, em acolher um seminário de estudo ao mais alto nível, reconhecido pela Direção-Geral de Educação como de enorme importância na formação dos professores para a replicação destas aprendizagens nas escolas, constituindo assim um veículo para uma maior consciência cívica.
Uma
última palavra de gratidão para a organização, que primou para que tudo
decorresse com normalidade e rigor, FAZENDO ACONTECER, não há dúvida de que os
participantes saíram mais enriquecidos, não apenas pelo que ouviram, mas também
pela partilha de experiências que este tipo de eventos possibilita.
Fica
a citação, de Edmund Burke:
“Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.”
Josefa Reis e Dores do Carmo
Fotos: Josefa Reis e Isabel Várzeas
Sem comentários:
Enviar um comentário
Participa com o teu comentário. Ele será útil para o debate e/ou, se for o caso, poderá ajudar a melhorar esta página. Obrigada