segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Honras de Panteão a Aristides de Sousa Mendes


 

O dia 19 de outubro de 2021 foi um dia marcante e inolvidável, para a família, para os entusiastas da causa, ao nível nacional e internacional, para o nosso o país e para o mundo. Uma das grandes figuras da história do séc. XX, Aristides de Sousa Mendes, foi agraciado com honras de Panteão Nacional, em Lisboa. 

Aprovada em Assembleia da República, em junho de 2020, a resolução nº 47, por proposta da deputada Joacine Katar Moreira, a iniciativa consistiu na colocação de um cenotáfio neste espaço, onde o país presta a maior das homenagens a autores de grandes feitos: na história nacional, na literatura, na cultura, no desporto, na música e, neste caso, a esta figura que defendeu os valores humanos, colocando a VIDA acima da sua e da sua família, em desobediência a ordens superiores no contexto do regime do Estado Novo, exemplo maior do altruísmo, da solidariedade e  da tolerância.


A cerimónia contou com a presença de membros do governo e de deputados, de familiares, de representantes de organizações ligadas à causa, mas também de alguns descendentes de refugiados salvos pelos vistos do cônsul-geral, emitidos, na sua maioria, em Bordéus, em junho de 1940. A equipa do projeto “Dever de Memória – jovens pelos direitos humanos”, Dores Fernandes e Josefa Reis, teve o privilégio e a honra de estar presente, corolário de todo o trabalho de homenagem e de divulgação que tem vindo a desenvolver há mais de duas décadas, dentro e fora da comunidade educativa, sobretudo nos últimos oito anos integrado no projeto em desenvolvimento como escola associada da rede UNESCO.


Este evento foi abrilhantado com música do Coro do Teatro Nacional de S. Carlos e pelos discursos e testemunhos de portadores e descendentes de vistos gravados e projetados para os presentes na cerimónia, enaltecendo o ato deste humanista, momentos muito emotivos que permanecerão na memória dos que o viveram. No Panteão Nacional perpetuar-se-á esta memória, através da placa evocativa aí colocada, lembrando aos visitantes que há seres humanos notáveis e heróis que não podem ser esquecidos.

Dores do Carmo e Josefa Reis

Fotos e vídeo: Josefa Reis
















O Dever de MEMÓRIA e a Gratidão… num Hino à VIDA!

 

Um hino à vida é o sentimento que nos envolve, cada vez que nos cruzamos com portadores de vistos de Aristides de Sousa Mendes, a escassear pela força do tempo ou descendentes desses mesmos vistos, que nos visitam, em sinal de gratidão. Contactar com uma portadora de um visto de Aristides de Sousa Mendes é uma honra e um privilégio, assim foi no passado dia 4 de outubro de 2021, através da visita à Casa do Passal e da EB ASM, de Hilda de Vleeschauwer, acompanhada pelo filho Pierre Guislain e sua esposa.


Hilda de Vleeschauwer, que tem 90 anos, foi deputada e esteve de visita a Portugal na primeira semana de outubro.  filha de Albert DE VLEESCHAUWER, um ministro belga agora recordado como "o belga Charles de Gaulle", que recebeu um visto de Aristides de Sousa Mendes, juntamente com a sua família e os seus amigos Rosa DELERUE e o Padre Edward DE ROOY em 1940. A família atravessou a fronteira espanhola para Portugal, onde viveram com a família Sousa Mendes, na Casa do Passal, em Cabanas de Viriato. Sabendo que a sua família estava a salvo, Albert DE VLEESCHAUWER viajou então para Londres para se encontrar com outros funcionários belgas e estabelecer o governo belga no exílio. Encontramos o testemunho de LUDO DE VLEESCHAUWER, registado em 2012 para a SMF (Sousa Mendes Foundation), o qual transcrevemos:

“Tenho memórias vivas de Aristides de Sousa Mendes, mas acima de tudo guardo para ele um profundo sentimento de gratidão. Ele protegeu a nossa família oferecendo a sua generosa hospitalidade em Cabanas de Viriato durante o trágico verão de 1940.  Conhecendo a sua família, o meu pai, o Ministro das Colónias Albert de Vleeschauwer, conseguiu viajar de Lisboa para Londres a 4 de julho de 1940 e de Londres para Gerona, na fronteira franco-espanhola, onde a 2 de agosto pôde conhecer os seus colegas Pierlot, Gutt e Spaak e convencê-los da necessidade de deixar Vichy e juntar-se a ele em Londres para continuar a guerra.  Esta ajuda recebida de Aristides de Sousa Mendes foi essencial para o bom funcionamento destes acontecimentos, que se revelaram de extrema importância para a Bélgica.”

Encontramos registo fotográfico desta passagem no arquivo da SMF, mostrada numa exposição sobre Sousa Mendes, realizada no Luxemburgo, onde podemos observar a família, sendo que a menina da direita é Hilda Vleeschauwer. 

Este momento emblemático serviu de motivação a um conjunto de obras, nomeadamente um tríptico a óleo, denominado “Vidas de Cristal”, da autoria de Josefa Reis, e que integra a exposição itinerante de arte contemporânea “SER Consciência…30/1000 por 1VIDA” - caminhos da MEMÓRIA, que visa assinalar o ato de consciência de Aristides de Sousa Mendes, num abraço pela Arte ao nosso “Justo entre as Nações”.

Na comitiva visitante encontrámos Cookie Fisher, em representação de outra refugiada portadora de visto de Aristides, a sua mãe Adele Van Den Bergh, que reitera a gratidão ao falar deste humanista, reforçando o valor da Vida e a coragem ao dizer “Não!”



Fonte da imagem- Family - Sousa Mendes Foundation



A equipa UNESCO, Josefa Reis e Dores do Carmo

Fotos: Josefa Reis