A questão da formação dos professores, e
de outros profissionais, é sempre uma oportunidade de enriquecimento e de
atualização, embora nem sempre se traduza, na prática, numa mais-valia. Ou
porque não corresponde às reais necessidades dos profissionais, ou porque é
muito teórica e por isso, pouco motivadora a aprendizagem.
Se é verdade que a formação dos docentes é
procurada por um imperativo do estatuto da carreira, é igualmente verdade que também
é frequentada por forte interesse e motivação do professor. Existem professores
empreendedores, que se envolvem em projetos desafiantes e que se interessam por
práticas e metodologias inovadoras em contexto educativo.
As necessidades e as expetativas da
sociedade atual, aberta, globalizada, sustentada pela informação e o
conhecimento têm vindo a desafiar o professor para uma atitude dinâmica,
flexível e conectada com o mundo. Neste contexto, é imperioso uma mudança de
paradigma de educação, de escola, de professor, de aluno e de ambiente de
aprendizagem. Impõe-se, por isso, um modelo de formação de professores,
enquanto promotor da qualidade da educação, mais capaz de capacitar os futuros
cidadãos para a intervenção nesta sociedade.
Nesse sentido, o curso de formação promovido pela Direção Geral da Educação, em parceria com o Mémorial de La Shoah: “O
ensino do Holocausto: ponto de partida para a Educação para a Cidadania e para
os Direitos Humanos”, realizado na Escola Secundária de Loulé,
de 26 a 28 de setembro, constitui um momento privilegiado de reflexão e de aprendizagem
sobre a temática.
O Projeto “Dever de Memória – jovens pelos direitos humanos” do nosso
Agrupamento fez-se representar pelas professoras Aldina Mendes, Dores Fernandes
e Josefa Reis, que desenvolvem a temática no âmbito deste projeto pedagógico e
pretenderam aprofundar conhecimentos e enriquecer competências para a abordagem
do tema dos direitos humanos na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Depois
da calorosa receção e da apresentação dos promotores e oradores do seminário,
iniciaram-se os trabalhos com a comunicação “As raízes do antissemitismo europeu”, de Hubert Strouk, do Mémorial de la Shoah, uma intervenção pertinente sobre
o tema, que extrapolou para a atualidade, segundo a diretiva do estudo do
passado para entender o presente e assim poder prevenir o futuro, emanada pelo Mémorial de la Shoah e também pelo Yad Vashem. As diversas abordagens do
dia, focadas no ensino e aprendizagem do Holocausto, foram, extremamente
cativantes e muito pertinentes as reflexões suscitadas. Sublinha-se a exposição
do mesmo orador na palestra “Desconstruir
teorias da conspiração” e o ateliê pedagógico “Desconstruir preconceitos na sala de aula”, que promoveram uma
reflexão sobre a necessidade de uma atenção intensificada, a importância do
saber ver e interpretar sinais e imagens aparentemente inócuos na sociedade,
principalmente através das plataformas virtuais, que são hoje um dos maiores
veículos da informação e da falsa informação. Não sendo o ensino do holocausto
um desafio fácil, é necessário ter em atenção a abordagem desta questão,
tornando-se necessário a preparação cuidada e criteriosa dos docentes e esse é
o entendimento da DGE, que ano tem vindo a apostar nesta formação. Deve, assim, a temática ser
alvo de uma articulação transversal entre as Aprendizagens Essenciais da
disciplina de História, a Estratégia Nacional da Educação para a Cidadania
e os princípios, áreas de competência e valores definidos no Perfil
dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória,
numa visão integradora do currículo.
A intervenção de Pascal Zachary, do
Mémorial de la Shoah, sobre “O centro de extermínio de Auschwitz” acrescentou
conhecimentos para a visita de estudo a Auschwitz e Birkenau a realizar, pela segunda
vez, neste ano letivo, de 2 a 5 de abril de 2020, no âmbito do projeto UNESCO
do nosso Agrupamento, alicerçado no estudo e partilha da temática da 2ª Guerra
Mundial, do Holocausto e do ato de Aristides de Sousa Mendes, “Justo entre as
Nações”, natural do nosso concelho
As reflexões trazidas pela historiadora
Irene Pimentel, do IHC da FCSH, da NOVA, a partir da comunicação “Portugal e o Holocausto”, sobre a política
ambígua e a avaliação das suas consequências, lançaram luz sobre a posição de
Portugal do Estado Novo, relativamente ao nazismo. A visita à exposição “Trabalhadores forçados portugueses no III
Reich”, patente na Casa Museu Engenheiro Duarte Pacheco, em Loulé, orientada
pela historiadora Cláudia Ninhos, do IHC, suscitou também muito interesse, por
traduzir o sofrimento e angústia infligido, neste período histórico de horror,
a portugueses emigrantes em França, prisioneiros dos campos de concentração, facto
desconhecido das próprias famílias. O documentário “Debaixo do Céu”, de Nicholas Oulman, constituiu outro momento alto
do seminário, representando, através dos testemunhos, um bom material gerador
de debate e reflexão, transversal a várias áreas em ordem ao perfil do aluno.
O curso de formação teve como objetivo fundamental
aprofundar os momentos marcantes do Holocausto, através da memória fundamentada
em documentos, de modo a desconstruir, no presente, as várias formas de negação
deste trágico acontecimento histórico, propiciando o entendimento da dimensão
do holocausto, que levou à morte de vários milhões de vítimas num extermínio
orquestrado e massificado. Pretendia, também, a constituição de uma rede
nacional de formadores na temática do Holocausto, conducente à replicação dos
conteúdos abordados. Contou com a participação de docentes de várias áreas
disciplinares, que entusiasmados pelos vários painéis, não se davam conta do
tempo a passar. Esta formação abriu perspetivas interessantes de trabalho no
âmbito da memória do holocausto e da educação para os direitos humanos, através
de excelentes comunicações e do apoio em fontes e documentação fidedignas, disponibilizando
variados recursos, propostas e metodologias de trabalho desta temática que se
apresenta cada vez mais necessária na formação dos alunos, face à crescente
onda de intolerância, radicalismo e extremismo político. Torna-se, assim,
premente a necessidade de desenvolver valores de uma cultura democrática, o
respeito pelos direitos humanos e a educação para a paz.
Texto:
Josefa Reis e Dores Fernandes
Fotos:
Josefa Reis
Sem comentários:
Enviar um comentário
Participa com o teu comentário. Ele será útil para o debate e/ou, se for o caso, poderá ajudar a melhorar esta página. Obrigada